Total de visualizações de página

sexta-feira, 4 de março de 2011

SoBrE cLaRiCe LiSpEcToR


"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil."

"Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."

"Mude,
Mas comece devagar,
Porque a direção é mais importante
Que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
No outro lugar da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
Procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
Ande por outras ruas,
Calmamente..."


Quem dera eu pudesse decifrar Clarice! Poder decifrar tamanha essência seria magnífico, porém satisfaço-me em poder ser presenteado com tua escrita... sincera, emocionante, digna! Uma mistura de realidade e fantasia. Sem palavras!
"Entender Clarice trascende qualquer realidade... Mulher de vida cotidiana, dona de casa, mãe , esposa, escritora oculta, conseguia ver o mundo com outros olhos e a interpretá-lo com outro coração. Escrever para ela parecia ser uma transfiguração do sentimento e a palavra a concretização do fato. Pois nas entrelinhas, existia alma!"